Recife, capital do estado de Pernambuco está entre as mais importantes cidades do Nordeste brasileiro, e foi o centro da economia da plantação de cana-de-açúcar e um importante porto no tráfico de africanos escravizados conhecido como “Atlântico Negro”. Uma particularidade do Recife, mais até do que outras cidades brasileiras, é a proximidade de bairros de classe média e alta, e favelas. Bairros formais são frequentemente cercados por assentamentos informais, e muitas áreas de classe média contêm pequenas favelas em sua área.
Dos anos 1940 até 1964, o início da ditadura militar, a cidade teve várias governos municipais progressistas, implementando políticas que visavam lidar com a luta dos trabalhadores pobres. Em 1964, Pernambuco foi um dos dois estados que se opuseram abertamente à tomada militar e foi fortemente penalizado por isso. Os remanescentes da escravidão permaneceram fortes em Pernambuco, expondo Recife como um exemplo vivo das contradições geradas pelas demandas sociais desencadeadas pela modernização e pelas aspirações da politicamente poderosa classe agrária em manter seus privilégios. Essas contradições vieram à tona quando, sob a liderança do carismático arcebispo Dom Hélder Câmara, um forte movimento popular pelo direito dos pobres à cidade surgiu.
Na década de 1980, a heterogeneidade socioeconômica da cidade, aliada à existência de fortes movimentos da sociedade civil, convenceu o regime militar de que era impossível expulsar os pobres da cidade. Uma aliança entre os movimentos sociais e o regime deu lugar a várias inovações de governança, como o programa de posse e legalização PREZEIS (Plano de Regularização das Zonas Especiais de Interesse Social) em assentamentos informais.
No entanto, os programas participativos enfrentaram severos cortes orçamentários e os empresas imobiliárias financiaram cada vez mais campanhas eleitorais de líderes comunitários com o objetivo de abrir áreas protegidas, conhecidas como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), para fins de valorização e embelezamento de áreas urbanas.
O projeto, portanto, discute: Como as lutas pelo poder em torno do direito dos pobres à cidade no Recife são moldadas pelos líderes comunitários? E o que isso diz sobre as perspectivas de um sistema de governança participativo verdadeiramente progressista em toda a cidade baseado na política da favela?